sexta-feira, 16 de maio de 2014

Sobre transbordar as dores e recusar as submissões


- Informações básicas:

• Como está o dia em que escrevo este texto: Chovendo. Frio. Nuvens escuras se espalham pelo céu cinzento. A brisa gelada balança preguiçosamente as folhas das árvores. Tudo parece calmo demais, triste, nostálgico. Um típico dia onde tudo nos faz lembrar coisas boas (e falsas) que já não voltam mais.

• Músicas que ouvi enquanto escrevia: Sparks (Coldplay), Make you feel my love (Adele), If you say so (Lea Michele), Face the sun (James Blunt), The scientist (Coldplay), Everything (Lifehouse), Conversa de botas batidas (Los Hermanos), Morada (Sandy Leah), How Could An Angel Break My Heart (Toni Braxton), For you (Coldplay), Proof (Coldplay), Jar of hearts (Lea Michele’s voice), Só vejo você (Tânia Mara).

A realidade está cada vez mais pesada nos meus ombros. Esperei do tempo ao menos um alívio, um indício de que as coisas logo melhorariam, que as feridas desapareceriam e deixariam apenas cicatrizes esbranquiçadas sobre o meu coração, mas o efeito está sendo totalmente o contrário. Sinto como se estivesse saindo de um coma profundo e as lembranças começassem finalmente a se arrastar de volta para o meu consciente. Todas as coisas acabadas que eu julguei inacabáveis, retornando lentamente, arrancando a casquinha das feridas e fazendo com que o sangue volte a escorrer livremente, ardido e dolorido, pelas brechas de um coração infectado de nostalgia.
Hoje seriam nove meses. Estaríamos juntos, certamente, independente dos nossos horários de aula. Fiquei o tempo inteiro tentando afogar as palavras que vivem tentando escapar de mim, porque não quero mais te escrever coisas lindas que você nunca vai ler, nem te desejar o bem apesar de tudo o que você me fez, tampouco ter uma desculpa sequer para permitir que você ocupe minha mente. Mas não escrever sobre você, no dia de hoje, seria uma falta de respeito, e vou explicar isso melhor: Sei que você foi falso do início ao fim, acredite quando digo que sei e tenho certeza absoluta disso. Mas tudo o que eu tinha era verdadeiro, e não escrever sobre isso seria me inundar cada vez mais da sua falsidade, coisa que eu não quero mais fazer.
Veja bem, meu amor, dores precisam ser sentidas. Fugir de uma dor é como mentir para si mesmo. Pode adiantar por um mês ou dois, talvez até mais, mas sempre vai ter um dia, uma música, uma conversa, um olhar, um cheiro, que vai trazer tudo á tona. O pior dentro de tudo isso é que dores escondidas acabam por se fortalecer através de suas próprias lembranças boas. Um dia, quando as lembranças boas simplesmente não bastarem mais, a dor se revela e acaba se alastrando por mais espaços, ferindo mais profundamente, preenchendo por mais tempo. Uma dor adormecida, quando finalmente desperta, acaba destruindo todas as resistências que alguém criou durante o período de “dormência”. E isso, meu amor, é vinte vezes pior do que sofrer tudo o que há para sofrer de forma imediata.
Desde o início do fim, tenho procurado formas não letais de descarregar minha dor. De todas elas, escrever sempre foi minha melhor saída, e primeira opção absoluta. Há dias em que estou travada, concentração baixa, cabeça em outro mundo, mas também há os dias em que as palavras se agrupam perfeitamente em minha mente, o que torna mais fácil conduzir meus dedos pelo teclado do computador. É bem melhor quando os desabafos já estão ali ao invés de esperar que se façam, de forçar qualquer coisa para fora simplesmente porque não suporto mais confortá-la dentro de mim. Não estou mais tão egoísta. Virei morada de sentimentos que pensei nunca mais confrontar, mas que agora são minha principal companhia através dos dias.
Às vezes, consigo chorar. É raro. Na maioria do tempo, as lágrimas ficam apenas acumuladas e se recusam terminantemente a escapar. Não me leve a mal, meu amor, sei muito bem que você não merece minhas lágrimas, nem minhas palavras bonitinhas, nem a organização (ou a falta de organização) dos meus textos, mas não faço isso só por você. Faço isso para não morrer afogada dentro das minhas próprias lágrimas, repletas das lembranças falsas que eu julguei verdadeiras um dia. Esconder que sente, ainda é sentir. Tentar fugir do que sente, ainda é sentir. Chorar no escuro, quando todos os outros estão dormindo, ainda é chorar, e melhor que isso, aliviar o peso de tudo o que podia ter sido, e não foi. O nós que não aconteceu dentro de você, e os nós que se desfizeram, arrebentando mais forte do meu lado, mais fraco, ferindo mais rápido e com maior intensidade.
Busco não me concentrar nas informações que as pessoas fazem questão de me trazer sobre sua vida, e como as coisas estão dando certo para você. Não queria mencionar que isso corrói um pouco meu coração a cada dia, porque vivo nessa incessante espera de que você sinta minha falta, se arrependa, volte atrás para eu poder te dar um não choroso e mentiroso, mas que a verdade seja dita: Ao que tudo indica, você está melhor sem mim. Soube disso no momento em que sai da sua casa pela última vez e você não veio atrás, nem uma ligação ou mensagem, nem um apelo sequer. Porque ambos sabíamos que você tem a maioria da porcentagem de culpa por esse fim, mas parece que eu sou a única que aceita essa verdade. Você, o grande traidor e mentiroso dessa história, insiste em negar o que fez.
Todos os dias, sinto falta do que nós vivemos. Enquanto suas praticas “extraconjugais” ainda estavam ocultas, era seguro pensar em estar nos seus braços. Uma sensação abrasadora, diferente de muitas coisas que eu já senti na vida, mas bom, sob todos os aspectos. O tempo acelerava, assim como o meu coração e o meu desejo de estar colada em você, como se não fôssemos enjoar da cara do outro jamais, como se as briguinhas desgastantes por motivos fúteis nunca fossem acontecer. Mas aconteceram. Estávamos sempre tão conectados, tão ligados, tão juntos, que os defeitos começaram a saltar aos nossos olhos antes que nos déssemos conta, o que seria um problema mesmo se o que sentíamos um pelo outro fosse verdadeiro de ambos os lados.
Sentimentos verdadeiros às vezes não suportam os defeitos alheios. Como tolerar infidelidade? Mentiras? Omissões constantes? Ausência exacerbada? Ignorância? Bipolaridade? Nenhum sentimento verdadeiro se sustenta em bases assim. Sei que há os que defendem que o amor verdadeiro tudo suporta e tudo perdoa, mas meu caro amigo, as coisas não são bem assim! Amar de verdade também é saber a hora de abrir mão da presença do outro em prol do seu próprio bem estar. A regra do “ruim com ele, pior sem ele” não pode mais existir para situações como essa. Está ruim com ele? É preciso coragem para tirá-lo da nossa vida e fazer com que tudo melhore, porque antes de amar verdadeiramente o outro, devemos amar verdadeiramente a nós mesmos.
E me amar verdadeiramente foi o principal motivo para que eu fosse até o meu quarto, trocasse de roupa, pegasse meu celular e algum dinheiro, e fosse direto para a sua casa encerrar nossa história. Chorei durante o caminho, mas nada que deixasse meu rosto tão inchado que você fosse perceber alguma coisa. Fui ensaiando na minha cabeça a conversa perfeita, o tom de voz que deveria usar e as frases marcantes que jamais sairiam da sua mente. Fui me preparando psicologicamente para destruir nosso mundo, que eu havia passado tanto tempo para construir. Sem dúvida, foi uma das decisões mais difíceis que precisei tomar para seguir inteira, ainda que me faltasse você como pedaço. Continuar ao seu lado seria perder constantemente minha identidade, aceitar as migalhas que você estivesse disposto a me oferecer, sabendo que sou capaz e que mereço alguém melhor do que você. Continuar ao seu lado seria um luto constante por cada parte de mim que ficaria pelo caminho, minha autenticidade jogada fora, minha personalidade desmontada e desfeita para sempre. Por isso, entre você e eu, eu prefiro seguir sozinha, porém munida de todas as armas e atributos e defesas que só eu compreendo, e que são minhas por direito.
Morro de medo de ser uma dessas mulheres que aceita qualquer coisa do marido/noivo/namorado. Desculpe meu amor, mas submissão não é prova de amor. Igualdade sim, e digo mais: Respeito recíproco. Os dois agindo em prol da continuação do relacionamento, e ambos se esforçando ao máximo para isso, porque não adianta se esforçar apenas na hora de conquistar e largar de banda depois disso. Amor também desgasta. Amor também começa a passar lentamente. E quando precisamos abrir mão de nós mesmos para viver algo, sinto muito, mas não é amor. Amor exige certas lapidações, mas a partir do momento em que é preciso destruir o outro para reconstruí-lo da nossa forma, vira posse, paixão, loucura. E embora todo amor tenha, no fundo, algumas pitadas de loucura, a loucura em si não é capaz de sustentar o amor de verdade. Sobriedade e lucidez, sim.
Foi desesperador o caminho até te deixar porque eu comecei lentamente a perceber que não tinha opção. Quando suas mudanças começaram a se tornar evidentes, pensei comigo mesma que não poderia seguir ao seu lado simplesmente por ainda não saber como seria viver sem você. Eu me recuso terminantemente a viver algo que me faz mal. Eu me recuso terminantemente a ser só mais uma dessas mulheres que aceita tudo calada, igual uma cadelinha sem dono. Eu me recuso, terminantemente, a ser submissa. Eu me recuso, entendeu? Por isso, com toda a dor do mundo, eu te deixei. Pela segunda vez. Eu te deixei, mesmo que ainda não tenha conseguido te arrancar completamente do meu coração.  Mas eu prefiro isso, sabia? Prefiro sofrer sozinha a empurrar com a barriga algo que eu sei que não vai pra frente nem se a gente der um chute com toda força.
Provavelmente ainda estaríamos juntos se eu não tivesse acabado tudo. E estaríamos completando nove meses hoje. Mas isso não seria motivo de comemoração, e sim de tristeza. Veja bem, meu amor, você não teria mudado em nada para melhorar nosso relacionamento, apenas teria continuado regredindo de acordo com a opinião e as vontades dos seus melhores amigos, e com a porcentagem da sua própria vontade em se sentir liberto de qualquer compromisso sério, ainda que não tivesse coragem de me dispensar. Então, eu, com minha insistente mania de sempre tornar as coisas mais fáceis pra você, dei um fim ao seu sofrimento, e iniciei um novo ciclo do meu. No final das contas, continuei pensando no seu bem estar. O que mudou foi que precisei me afastar completamente da sua vida pra isso.
Apesar de todos os pesares, de todas as dores da sua ausência sentida e dolorosa, continuo defendendo a ideia de que foi melhor dar fim a isso. Sei que você concorda cem por cento comigo, ainda que seja doloroso para mim. Digo e fico repetindo toda hora que foi melhor, porque mesmo tendo certeza que sim, às vezes, quando a saudade aperta um pouquinho e o coração sangra, um por cento da minha composição pensa se não teria sido melhor ir por outro caminho. A sorte é que, no mesmo segundo, os outros noventa e nove por cento surgem e abafam os protestos da pequena criaturinha chamada saudade. Pronto, problema momentaneamente resolvido!
Estou há dias como um balão muito cheio, mas o que me preenche são as palavras, que precisam escapar de alguma forma. Como não consegui ordená-las de forma coerente, pelo menos as organizei em frases e parágrafos. Não importam os meios, em todo o caso. Meu objetivo é esvaziar essa dor lancinante que tem se intensificado nos últimos dias, com a aproximação do inverno. Sou completamente apaixonada por dias escuros e nostálgicos, mas a verdade é que eles atiçam as dores mais profundas que uma pessoa é capaz de sentir. E isso é a última coisa que preciso: atiçar as dores. HÁ HÁ. Como se já não estivesse doendo o suficiente.
Mas, apesar de tudo, há algo que não consigo descarregar. Já escrevi mais de duas mil palavras neste texto, e ainda não consegui encontrar um meio de coloca-la para fora. Frustração. Por tudo. Por ter sido tudo o que você mais precisava, nos momentos que mais precisava. Por ter te ajudado de todas as formas, mesmo que você não merecesse. Por ter conseguido perdoar coisas que antes nem passavam pela minha cabeça perdoar. Por ter secado tuas lágrimas quando os outros te decepcionavam. Por ter me lapidado em todos os lados só para caber na moldura da tua vida. Por ter sido um lugar seguro para você se esconder enquanto atravessava suas tempestades. Por ter sido. Por mim. Por tudo o que eu fiz e você nunca valorizou. Frustração pura, seca, de quem sabe que fez demais por alguém que merecia "demenos", ou não merecia nada.
Ufa, que alívio! Meus ombros estão mais soltos. Os pesos diminuíram nas minhas costas. Respiro fundo, um, dois, três... Conto até dez. Que alívio! Não quero te desejar o mal por causa dessa minha frustração, então provavelmente continuarei falando sobre isso. Sempre. Sobre o quanto você não merecia tudo o que eu fiz e fui por você. Burro. Espero que você... Não, espera, não vou te desejar o mal. Tudo de bom pra você. Ufa, que alívio! Digo e repito: descarregar as dores ajuda. Alívio para a alma, para o coração e para a mente. Acho que, pelo menos por hoje, transbordei o suficiente para continuar seguindo sem você ao meu lado. Foi e é melhor assim.

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