- Informações básicas:
• Como está o dia em que escrevo este
texto: Chovendo. Frio. Nuvens escuras se espalham pelo céu cinzento. A brisa
gelada balança preguiçosamente as folhas das árvores. Tudo parece calmo demais,
triste, nostálgico. Um típico dia onde tudo nos faz lembrar coisas boas (e
falsas) que já não voltam mais.
• Músicas que
ouvi enquanto escrevia: Sparks (Coldplay), Make you feel my love (Adele), If
you say so (Lea Michele), Face the sun (James Blunt), The scientist (Coldplay),
Everything (Lifehouse), Conversa de botas batidas (Los Hermanos), Morada (Sandy
Leah), How Could An Angel Break
My Heart (Toni Braxton),
For you (Coldplay), Proof (Coldplay), Jar of hearts (Lea Michele’s voice), Só
vejo você (Tânia Mara).
A
realidade está cada vez mais pesada nos meus ombros. Esperei do tempo ao menos
um alívio, um indício de que as coisas logo melhorariam, que as feridas
desapareceriam e deixariam apenas cicatrizes esbranquiçadas sobre o meu
coração, mas o efeito está sendo totalmente o contrário. Sinto como se
estivesse saindo de um coma profundo e as lembranças começassem finalmente a se
arrastar de volta para o meu consciente. Todas as coisas acabadas que eu
julguei inacabáveis, retornando lentamente, arrancando a casquinha das feridas
e fazendo com que o sangue volte a escorrer livremente, ardido e dolorido,
pelas brechas de um coração infectado de nostalgia.
Hoje
seriam nove meses. Estaríamos juntos, certamente, independente dos nossos
horários de aula. Fiquei o tempo inteiro tentando afogar as palavras que vivem
tentando escapar de mim, porque não quero mais te escrever coisas lindas que
você nunca vai ler, nem te desejar o bem apesar de tudo o que você me fez,
tampouco ter uma desculpa sequer para permitir que você ocupe minha mente. Mas
não escrever sobre você, no dia de hoje, seria uma falta de respeito, e vou
explicar isso melhor: Sei que você foi falso do início ao fim, acredite quando
digo que sei e tenho certeza absoluta disso. Mas tudo o que eu tinha era
verdadeiro, e não escrever sobre isso seria me inundar cada vez mais da sua
falsidade, coisa que eu não quero mais fazer.
Veja
bem, meu amor, dores precisam ser sentidas. Fugir de uma dor é como mentir para
si mesmo. Pode adiantar por um mês ou dois, talvez até mais, mas sempre vai ter
um dia, uma música, uma conversa, um olhar, um cheiro, que vai trazer tudo á
tona. O pior dentro de tudo isso é que dores escondidas acabam por se
fortalecer através de suas próprias lembranças boas. Um dia, quando as
lembranças boas simplesmente não bastarem mais, a dor se revela e acaba se
alastrando por mais espaços, ferindo mais profundamente, preenchendo por mais
tempo. Uma dor adormecida, quando finalmente desperta, acaba destruindo todas
as resistências que alguém criou durante o período de “dormência”. E isso, meu
amor, é vinte vezes pior do que sofrer tudo o que há para sofrer de forma
imediata.
Desde
o início do fim, tenho procurado formas não letais de descarregar minha dor. De
todas elas, escrever sempre foi minha melhor saída, e primeira opção absoluta.
Há dias em que estou travada, concentração baixa, cabeça em outro mundo, mas
também há os dias em que as palavras se agrupam perfeitamente em minha mente, o
que torna mais fácil conduzir meus dedos pelo teclado do computador. É bem
melhor quando os desabafos já estão ali ao invés de esperar que se façam, de
forçar qualquer coisa para fora simplesmente porque não suporto mais
confortá-la dentro de mim. Não estou mais tão egoísta. Virei morada de
sentimentos que pensei nunca mais confrontar, mas que agora são minha principal
companhia através dos dias.
Às
vezes, consigo chorar. É raro. Na maioria do tempo, as lágrimas ficam apenas
acumuladas e se recusam terminantemente a escapar. Não me leve a mal, meu amor,
sei muito bem que você não merece minhas lágrimas, nem minhas palavras
bonitinhas, nem a organização (ou a falta de organização) dos meus textos, mas
não faço isso só por você. Faço isso para não morrer afogada dentro das minhas
próprias lágrimas, repletas das lembranças falsas que eu julguei verdadeiras um
dia. Esconder que sente, ainda é sentir. Tentar fugir do que sente, ainda é
sentir. Chorar no escuro, quando todos os outros estão dormindo, ainda é
chorar, e melhor que isso, aliviar o peso de tudo o que podia ter sido, e não
foi. O nós que não aconteceu dentro de você, e os nós que se desfizeram,
arrebentando mais forte do meu lado, mais fraco, ferindo mais rápido e com
maior intensidade.
Busco
não me concentrar nas informações que as pessoas fazem questão de me trazer
sobre sua vida, e como as coisas estão dando certo para você. Não queria
mencionar que isso corrói um pouco meu coração a cada dia, porque vivo nessa
incessante espera de que você sinta minha falta, se arrependa, volte atrás para
eu poder te dar um não choroso e
mentiroso, mas que a verdade seja dita: Ao que tudo indica, você está melhor
sem mim. Soube disso no momento em que sai da sua casa pela última vez e você
não veio atrás, nem uma ligação ou mensagem, nem um apelo sequer. Porque ambos
sabíamos que você tem a maioria da porcentagem de culpa por esse fim, mas
parece que eu sou a única que aceita essa verdade. Você, o grande traidor e
mentiroso dessa história, insiste em negar o que fez.
Todos
os dias, sinto falta do que nós vivemos. Enquanto suas praticas
“extraconjugais” ainda estavam ocultas, era seguro pensar em estar nos seus
braços. Uma sensação abrasadora, diferente de muitas coisas que eu já senti na
vida, mas bom, sob todos os aspectos. O tempo acelerava, assim como o meu
coração e o meu desejo de estar colada em você, como se não fôssemos enjoar da
cara do outro jamais, como se as briguinhas desgastantes por motivos fúteis
nunca fossem acontecer. Mas aconteceram. Estávamos sempre tão conectados, tão
ligados, tão juntos, que os defeitos começaram a saltar aos nossos olhos antes
que nos déssemos conta, o que seria um problema mesmo se o que sentíamos um
pelo outro fosse verdadeiro de ambos os lados.
Sentimentos
verdadeiros às vezes não suportam os defeitos alheios. Como tolerar
infidelidade? Mentiras? Omissões constantes? Ausência exacerbada? Ignorância?
Bipolaridade? Nenhum sentimento verdadeiro se sustenta em bases assim. Sei que
há os que defendem que o amor verdadeiro tudo suporta e tudo perdoa, mas meu
caro amigo, as coisas não são bem assim! Amar de verdade também é saber a hora
de abrir mão da presença do outro em prol do seu próprio bem estar. A regra do
“ruim com ele, pior sem ele” não pode mais existir para situações como essa.
Está ruim com ele? É preciso coragem para tirá-lo da nossa vida e fazer com que
tudo melhore, porque antes de amar verdadeiramente o outro, devemos amar
verdadeiramente a nós mesmos.
E
me amar verdadeiramente foi o principal motivo para que eu fosse até o meu
quarto, trocasse de roupa, pegasse meu celular e algum dinheiro, e fosse direto
para a sua casa encerrar nossa história. Chorei durante o caminho, mas nada que
deixasse meu rosto tão inchado que você fosse perceber alguma coisa. Fui
ensaiando na minha cabeça a conversa perfeita, o tom de voz que deveria usar e
as frases marcantes que jamais sairiam da sua mente. Fui me preparando
psicologicamente para destruir nosso mundo, que eu havia passado tanto tempo
para construir. Sem dúvida, foi uma das decisões mais difíceis que precisei
tomar para seguir inteira, ainda que me faltasse você como pedaço. Continuar ao
seu lado seria perder constantemente minha identidade, aceitar as migalhas que
você estivesse disposto a me oferecer, sabendo que sou capaz e que mereço
alguém melhor do que você. Continuar ao seu lado seria um luto constante por
cada parte de mim que ficaria pelo caminho, minha autenticidade jogada fora,
minha personalidade desmontada e desfeita para sempre. Por isso, entre você e
eu, eu prefiro seguir sozinha, porém munida de todas as armas e atributos e
defesas que só eu compreendo, e que são minhas por direito.
Morro
de medo de ser uma dessas mulheres que aceita qualquer coisa do
marido/noivo/namorado. Desculpe meu amor, mas submissão não é prova de amor.
Igualdade sim, e digo mais: Respeito recíproco. Os dois agindo em prol da
continuação do relacionamento, e ambos se esforçando ao máximo para isso,
porque não adianta se esforçar apenas na hora de conquistar e largar de banda
depois disso. Amor também desgasta. Amor também começa a passar lentamente. E
quando precisamos abrir mão de nós mesmos para viver algo, sinto muito, mas não
é amor. Amor exige certas lapidações, mas a partir do momento em que é preciso
destruir o outro para reconstruí-lo da nossa forma, vira posse, paixão,
loucura. E embora todo amor tenha, no fundo, algumas pitadas de loucura, a
loucura em si não é capaz de sustentar o amor de verdade. Sobriedade e lucidez,
sim.
Foi
desesperador o caminho até te deixar porque eu comecei lentamente a perceber
que não tinha opção. Quando suas mudanças começaram a se tornar evidentes,
pensei comigo mesma que não poderia seguir ao seu lado simplesmente por ainda
não saber como seria viver sem você. Eu me recuso terminantemente a viver algo
que me faz mal. Eu me recuso terminantemente a ser só mais uma dessas mulheres
que aceita tudo calada, igual uma cadelinha sem dono. Eu me recuso, terminantemente,
a ser submissa. Eu me recuso, entendeu? Por isso, com toda a dor do mundo, eu
te deixei. Pela segunda vez. Eu te deixei, mesmo que ainda não tenha conseguido
te arrancar completamente do meu coração. Mas eu prefiro isso, sabia? Prefiro sofrer
sozinha a empurrar com a barriga algo que eu sei que não vai pra frente nem se
a gente der um chute com toda força.
Provavelmente
ainda estaríamos juntos se eu não tivesse acabado tudo. E estaríamos
completando nove meses hoje. Mas isso não seria motivo de comemoração, e sim de
tristeza. Veja bem, meu amor, você não teria mudado em nada para melhorar nosso
relacionamento, apenas teria continuado regredindo de acordo com a opinião e as
vontades dos seus melhores amigos, e com a porcentagem da sua própria vontade
em se sentir liberto de qualquer compromisso sério, ainda que não tivesse
coragem de me dispensar. Então, eu, com minha insistente mania de sempre tornar
as coisas mais fáceis pra você, dei um fim ao seu sofrimento, e iniciei um novo
ciclo do meu. No final das contas, continuei pensando no seu bem estar. O que
mudou foi que precisei me afastar completamente da sua vida pra isso.
Apesar
de todos os pesares, de todas as dores da sua ausência sentida e dolorosa,
continuo defendendo a ideia de que foi melhor dar fim a isso. Sei que você
concorda cem por cento comigo, ainda que seja doloroso para mim. Digo e fico
repetindo toda hora que foi melhor, porque mesmo tendo certeza que sim, às
vezes, quando a saudade aperta um pouquinho e o coração sangra, um por cento da
minha composição pensa se não teria sido melhor ir por outro caminho. A sorte é
que, no mesmo segundo, os outros noventa e nove por cento surgem e abafam os
protestos da pequena criaturinha chamada saudade. Pronto, problema
momentaneamente resolvido!
Estou
há dias como um balão muito cheio, mas o que me preenche são as palavras, que
precisam escapar de alguma forma. Como não consegui ordená-las de forma
coerente, pelo menos as organizei em frases e parágrafos. Não importam os
meios, em todo o caso. Meu objetivo é esvaziar essa dor lancinante que tem se
intensificado nos últimos dias, com a aproximação do inverno. Sou completamente
apaixonada por dias escuros e nostálgicos, mas a verdade é que eles atiçam as
dores mais profundas que uma pessoa é capaz de sentir. E isso é a última coisa
que preciso: atiçar as dores. HÁ HÁ. Como se já não estivesse doendo o
suficiente.
Mas,
apesar de tudo, há algo que não consigo descarregar. Já escrevi mais de duas
mil palavras neste texto, e ainda não consegui encontrar um meio de coloca-la
para fora. Frustração. Por tudo. Por ter sido tudo o que você mais precisava,
nos momentos que mais precisava. Por ter te ajudado de todas as formas, mesmo
que você não merecesse. Por ter conseguido perdoar coisas que antes nem
passavam pela minha cabeça perdoar. Por ter secado tuas lágrimas quando os
outros te decepcionavam. Por ter me lapidado em todos os lados só para caber na
moldura da tua vida. Por ter sido um lugar seguro para você se esconder
enquanto atravessava suas tempestades. Por ter sido. Por mim. Por tudo o que eu
fiz e você nunca valorizou. Frustração pura, seca, de quem sabe que fez demais
por alguém que merecia "demenos", ou
não merecia nada.
Ufa,
que alívio! Meus ombros estão mais soltos. Os pesos diminuíram nas minhas
costas. Respiro fundo, um, dois, três... Conto até dez. Que alívio! Não quero
te desejar o mal por causa dessa minha frustração, então provavelmente
continuarei falando sobre isso. Sempre. Sobre o quanto você não merecia tudo o
que eu fiz e fui por você. Burro. Espero que você... Não, espera, não vou te
desejar o mal. Tudo de bom pra você. Ufa, que alívio! Digo e repito:
descarregar as dores ajuda. Alívio para a alma, para o coração e para a mente.
Acho que, pelo menos por hoje, transbordei o suficiente para continuar seguindo
sem você ao meu lado. Foi e é melhor assim.
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