domingo, 27 de abril de 2014

E de saudade eu entendo...



            Sinto uma saudade sufocante de coisas e pessoas que eu nunca mais vou ter na vida. Minhas avós. Meu primo Luis. O primeiro dia morando sozinha em outra cidade, e os primeiros problemas que apareceram com a aparente independência. Os seis meses malucos longe de casa, e a sensação de liberdade ao andar pelas ruas sem ter hora certa pra chegar em casa. A amiga com quem dividi um quarto por três meses em uma pensão de quinta no interior de Paraíba. O primeiro dia na faculdade, e aquele pânico de não conhecer absolutamente ninguém em uma cidade pelo menos dez vezes maior que a minha. Assustador, eu sei, mas sinto falta de como era não contar com ninguém pra resolver minhas coisas. Sinto falta de coisas que o tempo já levou pra longe de mim, mas que deixaram marquinhas tão profundas que jamais serão esquecidas.
E, infelizmente, você também faz parte dessa lista de memórias, sensações e saudade torturante. Aquela coisa quente que sobe do estômago e comprime a garganta, se mistura com nostalgia, faz a gente desejar voltar no tempo com tanta intensidade que chega a doer o coração.
Não me leve a mal, eu sei que nossos tempos foram conturbados. Não tivemos muitos momentos felizes, brigávamos todos os dias, falávamos coisas terríveis pro outro e ainda nos achávamos os donos da razão. Estávamos sempre corretos dentro do nosso mundinho de orgulho infinito. E por essa razão, quando acabou, ambos culpávamos o outro e nos julgávamos vítimas. Você, com essa sua mania infindável de sempre condenar todo mundo que te contrariasse.
Comigo não, baby!
Foi difícil deixar todos os cortes daquele tempo virarem cicatrizes, e confesso que alguns ainda estão parcialmente abertos e doloridos de tal forma que ainda incomodam em dias frios e nostálgicos, mas no geral posso dizer que estou me recuperando bem de você. Dois anos depois, eu sei, mas dizem que o tempo demora, mas cura, não é? Mesmo que eu ainda te procure em alguns lugares, ou espere esbarrar com você em qualquer esquina ou cidade. Bar. Restaurante. Faculdade. Banco. Farmácia. Loja. Qualquer coisa que possa te colocar no meu caminho outra vez.
Estive olhando seu facebook esses dias. Não, não estava te vigiando para saber onde você estava ou se estava perto o bastante de mim. Só quis ver seu rosto, que eu já não lembrava em detalhes como era. Bom, eu lembrava o seu sorriso de dentes brancos e certos e seus olhos de ressaca, mas fora isso, alguns traços estavam embaçados na minha mente. Por isso permiti que meus olhos percorressem seu rosto por quase duas horas, e quer saber? Não me surpreendi nadinha. Você continua lindo, charmoso, bem vestido e fotogênico. Pelas suas atualizações recentes de status, concluí que também continua mimado, mal criado, mal educado, dengoso e orgulhoso ao extremo do extremo do extremo. Ao ponto de todos estarem errados e você ser o único correto. Ao ponto de todas as opiniões serem dispensáveis e a sua a única digna de ser ouvida, ou seguida.
Isso foi incrivelmente relaxante. A pessoa por quem me apaixonei e que, utopicamente, planejei coisas grandes para o futuro, ainda existe, até onde pude perceber. Você ainda existe. Não é só o lado físico – a matéria – que comprova isso. É também aquele lado que, quando se juntou ao meu lado emocional, foi o causador do nosso fim. O lado rei da razão. O lado orgulho puro e seco. O lado complexo de Édipo mal resolvido. O lado que nunca chamou atenção o bastante dos pais. O lado reclamão e machista. Um lado que sempre foi capaz de me fascinar e intrigar ao mesmo tempo. Meu fascínio não era admiração, era mais uma vontade danada de decifrar você, de codificar cada terminação nervosa aí de dentro, de entender como – pelo amor de Deus, como? – alguém consegue sobreviver como você.
Mas depois de um tempo, cansei de tentar te compreender e resolvi começar aos pouquinhos a te aceitar. Com todos os seus mimos exagerados e seu pendor natural para brigas, que sempre aconteciam por motivos fúteis. Com toda a sua vontade absurda de mostrar ao mundo como podia ser independente sentimentalmente de todos ao seu redor, e ao mesmo tempo, uma carência letal de quem precisa de ao menos um abraço apertado antes de dormir.
E te aceitar foi complicado porque justamente quando eu achava que as coisas estavam normais, acontecia algo pra detonar minhas barreiras e minha confiança. Quando eu começava a acreditar que tinha o controle nas mãos e que a situação não poderia piorar nunca, você vinha e criava caso por qualquer coisinha fútil que chamasse sua atenção, inclusive o fato de você achar que eu devia sempre largar tudo e todos para estar com você, quando você quisesse. E eu não podia reclamar do tempo em que quem queria era eu: nestes, você estava ocupado demais, companheiro.
De tanto tentar te compreender, cansar, te aceitar e desistir de te ter, foi que percebi que nenhum dos caminhos que estavam ao meu redor nos levaria adiante, e então eu te deixei. Com mágoas, decepções, tristeza infinita. Mas ouvi nossas músicas por um bom tempo e sempre me lembrei de você como algo bom que devia ter dado certo, mas não deu...
Infelizmente!

4 comentários:

  1. Uma verdadeira escrita que reúne saudade e nostalgia. Praticamente me vi dentro dos teus sentimentos.
    Sentimentos e momentos que todos iremos passar um dia e só o tempo cura.
    BlogInstagram

    ResponderExcluir
  2. Que texto ótimo!!!
    Muito fácil se identificar com o que você escreveu, faz parte de crescer, né?
    Parabéns!

    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Afinal, como adquirir maturidade sem algumas decepções?
      Faz parte sim. Muito obrigada *.* beijinhos :*

      Excluir
  3. Nossa, você arrasa. Eu gostei muito do texto. (: Tentei seguir aqui, mas não achei o gadget de seguidores.

    >> Nosso blog, visite!
    - xoxo –

    ResponderExcluir