Sinto uma saudade sufocante de coisas e pessoas que eu
nunca mais vou ter na vida. Minhas avós. Meu primo Luis. O primeiro dia morando
sozinha em outra cidade, e os primeiros problemas que apareceram com a aparente
independência. Os seis meses malucos longe de casa, e a sensação de liberdade
ao andar pelas ruas sem ter hora certa pra chegar em casa. A amiga com quem
dividi um quarto por três meses em uma pensão de quinta no interior de Paraíba.
O primeiro dia na faculdade, e aquele pânico de não conhecer absolutamente
ninguém em uma cidade pelo menos dez vezes maior que a minha. Assustador, eu sei,
mas sinto falta de como era não contar com ninguém pra resolver minhas coisas.
Sinto falta de coisas que o tempo já levou pra longe de mim, mas que deixaram
marquinhas tão profundas que jamais serão esquecidas.
E, infelizmente, você também faz parte dessa lista de
memórias, sensações e saudade torturante. Aquela coisa quente que sobe do
estômago e comprime a garganta, se mistura com nostalgia, faz a gente desejar
voltar no tempo com tanta intensidade que chega a doer o coração.
Não me leve a mal, eu sei que nossos tempos foram
conturbados. Não tivemos muitos momentos felizes, brigávamos todos os dias,
falávamos coisas terríveis pro outro e ainda nos achávamos os donos da razão.
Estávamos sempre corretos dentro do nosso mundinho de orgulho infinito. E por essa
razão, quando acabou, ambos culpávamos o outro e nos julgávamos vítimas. Você,
com essa sua mania infindável de sempre condenar todo mundo que te
contrariasse.
Comigo não, baby!
Foi difícil deixar todos os cortes daquele tempo
virarem cicatrizes, e confesso que alguns ainda estão parcialmente abertos e
doloridos de tal forma que ainda incomodam em dias frios e nostálgicos, mas no
geral posso dizer que estou me recuperando bem de você. Dois anos depois, eu
sei, mas dizem que o tempo demora, mas cura, não é? Mesmo que eu ainda te
procure em alguns lugares, ou espere esbarrar com você em qualquer esquina ou
cidade. Bar. Restaurante. Faculdade. Banco. Farmácia. Loja. Qualquer coisa que
possa te colocar no meu caminho outra vez.
Estive olhando seu facebook
esses dias. Não, não estava te vigiando para saber onde você estava ou se
estava perto o bastante de mim. Só quis ver seu rosto, que eu já não lembrava
em detalhes como era. Bom, eu lembrava o seu sorriso de dentes brancos e certos
e seus olhos de ressaca, mas fora isso, alguns traços estavam embaçados na
minha mente. Por isso permiti que meus olhos percorressem seu rosto por quase
duas horas, e quer saber? Não me surpreendi nadinha. Você continua lindo,
charmoso, bem vestido e fotogênico. Pelas suas atualizações recentes de status, concluí que também continua
mimado, mal criado, mal educado, dengoso e orgulhoso ao extremo do extremo do
extremo. Ao ponto de todos estarem errados e você ser o único correto. Ao ponto
de todas as opiniões serem dispensáveis e a sua a única digna de ser ouvida, ou
seguida.
Isso foi incrivelmente relaxante. A pessoa por quem me
apaixonei e que, utopicamente, planejei coisas grandes para o futuro, ainda
existe, até onde pude perceber. Você ainda existe. Não é só o lado físico – a matéria
– que comprova isso. É também aquele lado que, quando se juntou ao meu lado
emocional, foi o causador do nosso fim. O lado rei da razão. O lado orgulho
puro e seco. O lado complexo de Édipo mal resolvido. O lado que nunca chamou
atenção o bastante dos pais. O lado reclamão
e machista. Um lado que sempre foi capaz de me fascinar e intrigar ao mesmo
tempo. Meu fascínio não era admiração, era mais uma vontade danada de decifrar
você, de codificar cada terminação nervosa aí de dentro, de entender como –
pelo amor de Deus, como? – alguém
consegue sobreviver como você.
Mas depois de um tempo, cansei de tentar te
compreender e resolvi começar aos pouquinhos a te aceitar. Com todos os seus
mimos exagerados e seu pendor natural para brigas, que sempre aconteciam por
motivos fúteis. Com toda a sua vontade absurda de mostrar ao mundo como podia
ser independente sentimentalmente de todos ao seu redor, e ao mesmo tempo, uma
carência letal de quem precisa de ao menos um abraço apertado antes de dormir.
E te aceitar foi complicado porque justamente quando
eu achava que as coisas estavam normais, acontecia algo pra detonar minhas
barreiras e minha confiança. Quando eu começava a acreditar que tinha o
controle nas mãos e que a situação não poderia piorar nunca, você vinha e
criava caso por qualquer coisinha fútil que chamasse sua atenção, inclusive o
fato de você achar que eu devia sempre largar tudo e todos para estar com você,
quando você quisesse. E eu não podia reclamar do tempo em que quem queria era
eu: nestes, você estava ocupado demais, companheiro.
De tanto tentar te compreender, cansar, te aceitar e
desistir de te ter, foi que percebi que nenhum dos caminhos que estavam ao meu
redor nos levaria adiante, e então eu te deixei. Com mágoas, decepções,
tristeza infinita. Mas ouvi nossas músicas por um bom tempo e sempre me lembrei
de você como algo bom que devia ter dado certo, mas não deu...
Infelizmente!
Uma verdadeira escrita que reúne saudade e nostalgia. Praticamente me vi dentro dos teus sentimentos.
ResponderExcluirSentimentos e momentos que todos iremos passar um dia e só o tempo cura.
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Que texto ótimo!!!
ResponderExcluirMuito fácil se identificar com o que você escreveu, faz parte de crescer, né?
Parabéns!
Beijos
Afinal, como adquirir maturidade sem algumas decepções?
ExcluirFaz parte sim. Muito obrigada *.* beijinhos :*
Nossa, você arrasa. Eu gostei muito do texto. (: Tentei seguir aqui, mas não achei o gadget de seguidores.
ResponderExcluir>> Nosso blog, visite!
- xoxo –